Um professor de filosofia se aproximou
do doido que estava sentado debaixo de sua árvore, de olhos fechados. Parou
ante ele e perguntou:
– Posso falar com você um instante?
Sem abrir os olhos, o doido respondeu:
– Dificilmente você poderá falar comigo.
– Porque você não acredita que eu
existo. Sem acreditar que eu existo e sem me conhecer, como poderá falar
comigo? Você provavelmente falará se dirigindo a uma imagem que você tem de
mim, uma imagem que só existe na sua própria mente.
O professor sorriu e chegou mesmo a
soltar uma risada, antes de perguntar-lhe:
– É verdade que você disse pros meus
alunos que você é a vida?
O doido abriu os olhos, repousou as mãos
nas coxas, olhou tranquilamente o homem que o interrogava e respondeu:
– É verdade. Eu sou. Sim, eu sou a vida.
Poucos me conhecem. Feliz daquele que se
depara comigo e me conhece!
O professor ficou desconcertado,
hesitante, sem saber como continuar a conversa ante aquela contundente
afirmação. E o doido prosseguiu:
– Mas fui modesto com seus alunos. Não
apenas sou a vida. Na verdade, eu sou o sentido da vida, sou a razão-de-ser,
sou a onipresença...
– Que loucura! - disse o professor -
Como você pode ser a Onipresença?
– Eu estou em tudo e em todos -
respondeu o doido - neste exato momento sou eu quem pergunta através desta boca
que você chama de sua e sou eu quem responde através desta que chamo de minha.
Você sou eu. Mas pra você entender isto, teria que entender também que eu sou
você.
A mente do professor parou ante aquele
discurso ilógico. E não soube o que dizer por um instante. Hesitou, refletiu.
Até que ocorreu-lhe uma ousada pergunta:
– Você é a razão-de-ser? Então a humana
razão-de-ser tem a finalidade de fazer-nos sair dos padrões de normalidade para
então ficarmos completamente loucos?
Não podendo dizer em palavras o que
sabia para além da racionalidade humana, o doido sorriu, balançou
afirmativamente a cabeça e, sem desmanchar o sorriso, disse:
– É isso aí!
– Soube que você anda ensinando às
pessoas. O que exatamente você ensina?
– Perguntou o professor.
– Na verdade, você não deve viver
buscando respostas pra todas essas suas perguntas confusas e sem sentido. Você
deve apenas se livrar de todas elas.
Livre-se de todas as suas perguntas que
você perceberá que a única e essencial resposta que precisa já está dentro de
você.
– E que resposta é essa?
– Que o seu verdadeiro ser, na verdade,
não se encaixa em nenhum dos padrões de normalidade.
Que você – tal como você realmente é – é
algo inteiramente novo, original, inédito. Que, na verdade, você também é
completamente doido, maluco.
E só mais uma coisa: você anda ensinando
perguntas que só geram mais perguntas, pois eu ensino a resposta que acaba com
todas as perguntas, eu ensino o silêncio.
Dito isto, fechou os olhos, juntou as
palmas das mãos como numa prece e entregou-se ao silêncio. Então desprendeu-se
dele uma emanação de amor que foi sentida pelo professor como uma suave pancada
de energia, uma sensação muito nítida, um toque realmente físico, algo nunca
sentido antes pelo professor que foi invadido imediatamente também pelo medo do
desconhecido e tratou de imediatamente afastar-se dali.
Valgênio Marques
Li esse conto e fiquei muito tocado com
os ensinamentos que ele trás e por isso trouxe ele para que você, querido
leitor, também leia.
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